É do ser humano, achar que viverá para sempre, nosso complexo de super-herói, salvo algumas exceções, nos afasta de tudo o que pode nos fazer lembrar que somos frágeis, fracos, expostos e sujeitos às intempéries do tempo e consequentemente das suas adversidades.
Mas e quando algo inusitado e desconhecido bate à nossa porta? O que fazer quando uma doença que assusta já pelo nome afeta quem amamos? É sobre amor incondicional e ressignificar quem somos e como cuidar de quem nos cuidou, que o livro “Com Alzheimer e com amor” da jornalista Arminda Bertuzzi vai tratar.
A autora transborda em suas palavras todo o afeto e preocupação dedicados à sua mãe, que foi diagnosticada com a Doença de Alzheimer. Neste livro ela descreve como lidou com a doença da mãe, desde os primeiros sinais de mudança até os mais graves. De maneira coloquial, sua narrativa forte e pulsante, conduz o leitor ao labirinto que se apresenta na vida da protagonista, dona Maria.
Nos primeiros capítulos, Arminda traça toda a trajetória, as percepções e nuances que a fizeram começar a questionar sobre o comportamento da sua mãe. Nesta etapa, conta como os primeiros sinais da doença se apresentaram, fala sobre duvidar de si mesmo, e até de não querer aceitar que tal situação pudesse estar acontecendo com alguém que tanto ama. Aliás, amor é o fio condutor desta obra, um amor que transcende, que precisou ser paciente, cauteloso, por vezes até enérgico, mas sobretudo incondicional. Nesta etapa a autora nos apresenta, embasada pelo “Manual do Cuidador, doença de Alzheimer”, a fase leve da doença.
Já nos capítulos que se seguem, é abordada pela autora, a fase moderada da doença. A partir do dia-dia entre ela e sua mãe, que passa a morar em sua casa com sua família, entre memórias afetivas e lembranças bem humoradas de situações que ocorreram, Arminda relata toda a mudança feita em sua rotina para poder dar todo o suporte necessário que proporcionasse conforto e tranquilidade à mãe. A fase moderada do Alzheimer exigiu da autora muita paciência, dedicação total, além de uma busca constante por leituras, artigos e informações acerca da doença. Mais do que aprender sobre o Alzheimer, ela buscou se conectar e conhecer outras pessoas que também passaram por isso. Sua escrita não deixa dúvidas de que ao longo desta jornada precisou aprender e ressignificar muita coisa sobre si mesma e sobre sua mãe a quem tanto admirava.
Nesta etapa ainda, Arminda conta como foi difícil admitir que precisava de ajuda de cuidadores para dar conta de tudo, da culpa que sentiu quando decidiu colocar dona Maria passar as tardes numa clínica de repouso, até finalmente, respeitando a vontade e a decisão da mãe, deixá-la morando lá, tudo sempre sob seu olhar atento e amoroso de filha.
Por fim na fase grave da doença, quando sua mãe precisa ser internada, a autora escreve como percebeu que era chegada a hora de entender que não tinha o controle de tudo, perdoando-se pelo o que não conseguiu fazer como queria, e permitindo-se aproveitar os últimos momentos com sua amada Maria.
É emocionante o relato de como Arminda demonstra seu amor por sua mãe, desde um simples gesto como pintar a unha dos pés, até celebrar, mesmo que de modo singelo, os 91 anos da mãe. E respeitando a vontade dela, quando chegou a hora de partir, dona Maria partiu.
Com Alzheimer e com amor, é um desabafo, é uma declaração de amor de uma filha por sua mãe e sobretudo é a partilha das vivências e experiências compartilhadas da autora com todos que possam um dia passar por isso. Nesta obra, que também informa sobre essa doença, o leitor aprende e se emociona com o dia-dia repleto de amor e dedicação de Arminda por sua mãe Maria.