Presidente da SBCBM do Capítulo / RS avalia os impactos das mudanças na saúde pública e privada
O Conselho Federal de Medicina (CFM) publicou, na última semana, uma nova resolução que altera os critérios para a realização de cirurgias bariátricas e metabólicas no Brasil. As mudanças representam um marco importante no enfrentamento da obesidade, doença que atinge mais de 6,7 milhões de brasileiros, segundo dados do Ministério da Saúde.
Entre as principais atualizações está a ampliação do público apto ao procedimento. Na nova resolução, adolescentes a partir de 14 anos, diagnosticados com obesidade grave — definida por um Índice de Massa Corporal (IMC) superior a 40 e a presença de comorbidades — poderão ser submetidos à cirurgia, desde que haja indicação médica criteriosa e consentimento dos responsáveis legais. Até então, o limite era de 16 anos, salvo em situações experimentais autorizadas por comitês de ética.
Além disso, a nova diretriz também beneficia adultos com IMC entre 30 e 35, desde que apresentem doenças associadas, como diabetes tipo 2, apneia obstrutiva grave, doença cardiovascular severa, doença hepática gordurosa com fibrose, osteoartrose avançada, entre outras condições clínicas que comprometem severamente a qualidade de vida.
As mudanças seguem uma tendência mundial, baseada em evidências científicas, que reforçam o papel da cirurgia bariátrica não apenas como tratamento para obesidade, mas também como intervenção efetiva no controle de doenças metabólicas.
Especialista avalia os impactos
Para Dr. Luciano Neto, presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica (SBCBM) do Capítulo / RS e também presidente da AMECS — Associação Médica de Caxias do Sul —, as mudanças são extremamente relevantes tanto para os pacientes quanto para os profissionais de saúde.
“Essa atualização representa um avanço na medicina, pois permite intervir mais precocemente, especialmente em casos de adolescentes, prevenindo complicações futuras. Além disso, amplia o acesso ao tratamento para pacientes que, mesmo com IMC abaixo de 35, sofrem com doenças graves associadas à obesidade.”
O médico também destaca que o procedimento não deve ser visto como uma solução estética, mas como parte de um tratamento multidisciplinar, que envolve acompanhamento nutricional, psicológico, endocrinológico e atividades físicas, tanto no pré quanto no pós-operatório.
“É fundamental reforçar que a cirurgia não é um fim, mas um meio para que o paciente recupere sua saúde, seu bem-estar e sua qualidade de vida. A obesidade é uma doença crônica, progressiva e multifatorial, e precisa ser tratada com responsabilidade e acompanhamento contínuo.”
O Brasil é hoje um dos países que mais realiza cirurgias bariátricas no mundo. No entanto, o acesso ao procedimento ainda é limitado, principalmente na rede pública. Com as novas regras, espera-se uma ampliação nas indicações cirúrgicas e, consequentemente, uma redução dos impactos da obesidade sobre o sistema de saúde.
A obesidade, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), é um dos maiores desafios de saúde pública do século, associada a mais de 200 complicações clínicas, incluindo diabetes, hipertensão, AVC, infarto e vários tipos de câncer.
As novas diretrizes reforçam que a cirurgia bariátrica deve ser considerada uma ferramenta essencial no tratamento da obesidade grave e das doenças metabólicas, e não uma última alternativa.